Amor próprio

Tammuz, como o mês de Câncer é chamado no calendário Kabbalistico, é um mês onde temos uma oportunidade especial de remover egos ligados à mágoas, rancor e raiva. Conforme os ensinamentos dos kabalistas e também pesquisas de alguns estudiosos contemporâneos que buscam a relação entre doenças e estados emocionais, mágoas, rancor e raiva são os maiores causadores da doença chamada câncer.
Considerando que o primeiro passo para eliminar um ego é trazê-lo para luz e admiti-lo publicamente de forma que ele não possa ser negado para depois disto buscar a cura da situação causadora do ego e transformar ele em algo positivo eu escrevo este texto.
O óbvio seria exteriorizar esses sentimentos, considerando eles voltados para outras pessoas, num jogo de vítima e acusador e vice-versa, porém durante esta segunda semana do mês de câncer que traz essa energia tão intensa e cheia de sensibilidade e que culmina hoje na lua cheia, eu fiquei me perguntando como fazer isso quando a vítima e o algoz que alimentam esse sentimento são a mesma pessoa? Confuso?
Quero falar da origem de três questões que tenho confrontado muito nos últimos dias: controle, orgulho e julgamento. Mas quero falar deles de uma perspectiva nova, onde eles não são o ego causa, mas o ego efeito de um ego maior: auto ódio.
Há conceitos que tenho especial dificuldade de interiorizar. Naturalmente prefiro pequenos passos e constante evolução por isso muitas vezes divido o aprendizado em duas etapas, assim ele se torna mais digerível: compreender intelectualmente e em seguida começar a aplicar, especialmente se eu tiver muita resistência para interiorizar o conceito.
Amor próprio é um destes conceitos que tive especial dificuldade em compreender intelectualmente e que ainda tenho dificuldade de pôr em prática. Para amar algo ou alguém de forma genuína é necessário ter um conhecimento profundo e contínuo do alvo de nosso amor, ou seja, autoconhecimento é base para o amor próprio. Conhecer-se consiste em olhar com honestidade para si mesmo reconhecer os defeitos a transformar e as qualidades a alimentar. Integridade seria outra boa qualidade que eu agregaria à lista de itens que alimentam a base de um bom autoconhecimento.
Ser íntegro consigo mesmo é ser completo. Consiste em não julgar ou rotular nada como positivo ou negativo, mas apenas reconhecer que aquilo faz parte de mim de forma indissociável naquele momento. Ser íntegro desta forma seria não julgar nada nem ninguém, mas observar e buscar a pureza da essência.
Em um segundo momento deste processo de autoconhecimento eu posso me aproximar do espelho e classificar o que eu gosto, admiro e desejo cultivar. Aqui começaram as minhas dificuldades no meu processo de autoconhecimento. No meu espelho não haviam qualidades para serem admiradas e cultivadas. Tudo que eu consegui ver foram defeitos, falhas, dores, marcas de uma vida que eu não amava.  Poderia listar todos os defeitos com detalhes, falar de suas origens, justificar os mecanismos que me afastavam de quem eu gostaria de ser, mas não poderia falar das armas que eu poderia usar para vencer esta guerra.
Quando estamos diante de uma pessoa com quem temos problemas, dificuldades de qualquer ordem o que nos salta aos olhos são seus os aspectos que consideramos negativos. Independente do meu grau de dificuldade é isso que acontece naturalmente, e quanto maior o desafio, menores serão as chances de eu conseguir ter algum grau de compaixão pelo outro e olhar ele com o amor do criador em meus olhos de forma que eu possa ver algo de bom nele.
Essa falsa modéstia de não reconhecer minhas qualidades embotou meus olhos para qualquer qualidade que eu tenha e me impede de obter resultados melhores em muitas áreas da minha vida.
É uma postura me condena sem um advogado de defesa diante de um juiz ditatorial que me aperta até o chão ao menor ‘sinal de falha’, me tornando pequena. É também essa postura que me desencoraja de perseguir qualquer sonho ou cultivar qualquer desejo por algo que possa ser bom, medindo a dor de não conseguir e colocando ela maior que qualquer esforço que eu possa fazer para conquistar aquilo que desejo, assim me torno vítima de minha própria covardia e justifico uma inércia quente e confortável que me mantém naquela zona de conforto que eu conheço e que me impede de ser exposta ao ridículo que poderia ser meu fracasso, controlando resultados e me mantendo numa zona de mediocridade. Melhor a tristeza com seu sabor acre constante e controlado à doçura de um momento de alegria seguida de outro momento de tristeza.
Esse pensamento coloca todos os resultados como derrota, onde há apenas um vencedor, o primeiro e melhor de todos. O orgulhoso não pode reconhecer que todos são vencedores diante de suas jornadas onde superar suas próprias dificuldades é o maior prêmio. Quando nos medimos apenas por nós mesmos e permanecemos na batalha diária de nos melhorar há somente vencedores, pois, as outras medidas podem apenas servir de parâmetro para que eu tenha um bom modelo para seguir e admirar.
           Quando me olho com a compaixão que eu penso que eu dedicava para os outros, convivo com minhas falhas e vejo como melhorá-las e superá-las, e quando vejo as qualidades para admirar e virtudes para reforçar e cultivar me torno mais forte. Sou forte não por que atingi algum grau de perfeição, mas por que tomo minhas fraquezas e as torno combustível da força que preciso para buscar superá-las.
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