Criando borboletas.

Círculo vicioso, carma, tikkun. O nome dado varia conforme a corrente espiritualista que você segue ou conhece. O desafio é sempre o mesmo, a dificuldade em vencê-lo também.
                Falo daqueles hábitos autodestrutivos inconscientes que temos. Do nosso sistema reativo natural, aquele “software” com o qual nascemos que determina muito de nosso comportamento. Esse sistema operacional natural é muito bem descrito e explicado em nossos mapas astrais.  Tanto em qualidades quanto em vícios e defeitos, com "inexplicável" precisão matemática.
                O tempo passa, a vida segue e quando vemos nos deparamos com o mesmo desafio de anos atrás. Então nos perguntamos, "como pode?" eu mudei tanta coisa em minha vida e agora estou novamente diante da mesma situação.
A namorada é nova, a reclamação dela em nosso relacionamento é a mesma da ex! Troquei de emprego, mas mesmo ganhando mais não consigo tirar real proveito do dinheiro que ganho. O novo chefe me explora tanto quanto o antigo. Preencho cada segundo da minha agenda para conseguir dinheiro suficiente para poder ter uma vida confortável e então passar mais tempo com as pessoas que eu amo, se ainda estiverem vivas e saudáveis, naturalmente!
                Como vencer isso? A verdade é que se você se deu conta de algum destes padrões certamente em algum momento da sua vida você irá vencê-lo ou ao menos aprender a controla-lo, basta dar o primeiro passo. Sim Neo, a pílula vermelha!


                O processo de tornar um tikkun consciente é lento e para aqueles que não negam este fato é um tanto quanto doloroso. Reconhecer que você é derrotado por si mesmo de tempos em tempos, olhar-se no espelho e ver a imagem real é difícil. Você ficará entre preservar o orgulho próprio, facilmente confundido com autoestima ou autoconfiança, tentando se convencer da necessidade daquele hábito, de que ele lhe faz bem, mesmo lhe sugando até a última gota de vida de sua vida.
                Esse hábito lhe torna um sobrevivente. Você corre incansavelmente pela satisfação vinda de uma fonte externa a seu ser, perseguindo névoas e fumaça. Você se agarra com paixão a aquilo que parece ser sua única chance, nutrindo a ilusão, a falsa segurança de caminhar pelo que já conhece. Se apega até o último átomo de seu ser ao que obviamente lhe parece o melhor.
                O conforto desta segurança é uma ilusão. Segurança é ilusão quando está fora de ti. Ao confrontar-se no espelho e admitir que é hora de andar por um novo caminho, decidir que é hora de parar de sofrer, de viver uma vida miserável, pois será neste momento que a magia entra em sua vida. Você sequer precisará decidir com total certeza, basta que a dor de permanecer desta forma seja maior que a de enfrentar o novo.
                Pode ser que haverá corajosos que lhe confrontarão. Pobres criaturas, mesmo assim não conseguirão lhe ajudar, para ver um padrão assim é preciso estar pronto. E não estar pronto equivale a arrancar uma borboleta de seu casulo, a intenção de quem o faz é boa, mas nesse ato você impede que ela se torne forte para viver a vida e eventualmente além de deixa-la incapaz de defender-se você poderá matá-la.
O processo é doloroso pois, como qualquer outra coisa nesta vida, para construir algo novo você terá que destruir o antigo. Sim você terá que olhar para o espelho e ver que aqueles pedaços não são você, mas eles te ajudarão a se tornar quem você realmente é, no momento em que você os arrancar de si. No começo você não conseguirá reconhecer-se a si mesmo, é tudo tão confuso, é o primeiro raio de luz que entra no cômodo fechado e denuncia a bagunça que não “havia ali”.
                A catarse, as lágrimas, a dor, tudo isso passa, mas é parte necessária do processo. A escuridão é sempre mais intensa antes do primeiro raio de sol.
É bom ter alguém paciente ao seu lado, saber que alguém que lhe ama verdadeiramente, apesar de tudo aquilo que você carrega consigo e que não é você, poderá lhe ajudar a dar o pequeno passo que falta para vencer a escuridão. No final o amor é tudo que você realmente precisa, primeiro amor próprio pois você terá de brigar o resto de sua vida com um oponente desconhecido para si por si mesmo: você! A briga interna será constante, mas com o tempo você sabe qual dos lutadores merece ser alimentado.
 Quando você se der conta, esse sentimento de amor divino será parte de ti, não como algo direcionado à um objeto específico de sua vida, mas como admiração pela perfeição da obra do criador. Você se dará conta de que as pequenas imperfeições diárias que tornam a vida perfeita e quando isto acontecer, a gratidão será o sentimento mais constante em sua vida.
                A velocidade do processo depende somente de si. Quando você perceber que a dor é sua melhor amiga ela se tornará prazer. Não falo em masoquismo, falo em apreciar a falta de conforto que é confrontar-se, sair da negação, assumir-se falho, admitir-se humano.
                Ao assumir-se pequeno, é neste instante que ocorre o nascimento de um novo universo, este realmente seu. A contração do único ponto superdenso em uma explosão de cor, luz e velocidade. A morte e o renascimento que são ilustradas em diversas religiões, filosofias e lendas. A destruição daquilo que já não serve mais para o surgimento de um novo herói. O momento em que o homem se torna aprendiz de “Deus”. O mago faz sua alquimia tornando chumbo em ouro. O impossível se torna possível bem diante de seus olhos.
                Ao transformarmo-nos tomamos do universo a força necessária para nos tornarmos donos de nossos próprios caminhos. O criador enche sua taça, para que você sorva o doce néctar de controlar a sua própria vida. O destino passa a ser apenas um tecido do qual você faz o tear. Você deixa de navegar ao sabor do vento e controla suas velas. Eventualmente haverão desvios de curso, mas você será grato inclusive por estes!
Os passos podem ser lentos ainda, mas enxergamos o horizonte, o caminho é definido, o destino é certo, o clima está claro e podemos sentir o calor do sol no rosto ou apreciar a luz velada da lua e a beleza das estrelas.
           Até a próxima encruzilhada seguiremos assim, mas assim como a velocidade da viagem, se você souber o destino desejado, o porto de sua chegada, é mais fácil navegar.

IMAGEM: A borboleta monarca é conhecida por ser a borboleta mais longeva de nosso planeta e também pelos seus ciclos migratórios durante as mudanças de estação.
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